quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Viagem ao Uruguai - Indo e Voltando

Apesar de saber e gostar de escrever muito (modéstia a parte), ultimamente tenho estado meio sem paciência de exercitar esse meu lado "bicha literária" (esse termo é muito utilizado pelo pessoal do Jeep Clube!).
Vou tentar não deixar muito extenso...
Só não se esqueça de que é uma viagem de carro de 6.240 kilômetros, de 14 dias, muitos lugares para passar e pouco tempo para observar e conhecer tudo.
Vale ainda destacar, que as visões, conclusões, medos e alegrias referem-se à gostos e instantes diversos, que unidos à séries de fatores podem estar equivocados... Ou não!
Por fim, é um relato, pessoal, impressões, emoções, compartilhados com minha família em alguns momentos e, em outros, não.
Então a coisa começou assim...

Tomados pelo velho e eterno problema de que não somos muito fãs de ficar lá na praia, olhando pro tempo e esperando a vida passar (eu, principalmente pelo fato disso ser altamente engordante!), resolvemos que precisávamos inventar um novo destino pra família. Óbvio que muitas coisas aparecem, mas tem um tanto de poréns envolvidos que devem ser levados em consideração. 
Resumindo, caiu a tal da Montevidéu no nosso colo, como possibilidade.
Mas começar por onde???
De forma resumida, posso deixar aqui registrado que o apoio, as ideias e dicas do pessoal da lista de e-mails sobre Toyota Bandeirante (os toyoteiros do Brasil) foi de extrema importância e relevância para que pudéssemos ganhar confiança e partir pra essa aventura. Assim sendo, deixo aqui registrados os meus mais sinceros agradecimentos à todos da lista que, de qualquer forma, puderam dar pitaco e opinaram sobre as mais inúmeras possibilidades.

Daí, veio o planejamento.
Acostumados à viagens de carro desde a mais distante infância, fizemos projeções, cheias de liberdades e criamos algumas alternativas em termos de saída e de retorno. Não vou me estender muito nisso, mas posso dizer, sem medo, que muito do que foi planejado não foi executado e que, alguns dos acidentes e equívocos de percurso foram tão ou mais surpreendentes e interessantes que alguns dos pontos turísticos mais batidos.

Saímos dia 31 de dezembro, as 3h30 da madruga. Chegamos às 12h05 em Ipuã-SP para um almoço com uma parte da família da minha mãe. E começamos maravilhosamente bem a parte gastronômica de nossa viagem. Cupim injetado e linguiça de frango com queijo...
Pensa nuns trem bom...
E pra sobremesa, implacável e cruel, um docinho de leite...
HUMMMMMMMMMMMMM
Daqueles que só alguns pouquíssimos anjos na face da terra sabem fazer...

Ficamos até às 14 horas e partimos pra Sorocaba - SP.
Passamos o Reveillon acabados na cama, capotados de tal forma que não ouvimos nenhum barulhinho dos fogos comemorativos...
Deitei às 20h e acordei às 6h30.
Saímos às 8h, depois de um bom café e seguimos para a descida da serra, entre as cidades de Piedade e Juquiá.
A estradinha é uma coisinha linda.
Pena que já tinha, logo cedo, um pequeno movimento de subida pós reveillon, com alguns infelizes tentando forçar ultrapassagem onde, simplesmente, é impossível.

Em Curitiba, seguimos direto para o Velho Madalosso para podermos ter nossa "ceia" do ano novo.
E somos chatos...
Pra nós só serve comer no Velho Madalosso!
Creio que já tenho tido experiências melhores por lá, mas ainda aposto nesse programa mais algumas vezes.
Restaurante lotado, ficamos na fila de espera por uns 20 minutos (tirando o fato de que a atendente resolveu que meu nome tinha que ser Ernesto...).
Comemos bem e tomamos estrada novamente.

Vale aqui um comentário.
Os pedágios te fazem repensar a situação de viajar de carro pelo sudeste-sul...
Juntando todos, saem caro demais (não somamos tudo ainda, mas creio que mais de 300 reais ao todo, entre Brasil e Uruguai).
Em São Paulo, rumo à capital, tornam as pistas da Anhanguera e de outras, um negócio de primeiríssimo mundo.
Impressionam muitíssimo!!!!
Bem, pela qualidade, mal pelo valor.
Pagamos 8 reais e alguma coisa no mais caro, porém o que causa verdadeiro impacto é o conjunto da obra!
Em nossa volta, já na região mais central do estado, vimos que tudo é absurdo...
Em Ourinhos, os camaradas fizeram uma vergonhosa armadilha...
Uma tesoura de viaduto te leva, por aproximadamente um kilômetro, direto ao mais famigerado e caro posto de pedágio que eu já vi!
Cobram 13 reais e alguns quebrados por uma estrada que se fosse de terra, talvez conseguisse ser mais digna.
Vale destacar que nessa região do interior de São Paulo, rumo ao centro oeste, estão os pedágios mais absurdos de toda a viagem!



E o asfalto é de fazer parelha às estradas abandonadas da Bahia!
Uma verdadeira vergonha!!!
No Paraná e em Santa Catarina percebemos algo parecido, porém menos vergonhoso.
Na BR 101 (litoral) paga-se menos que em SP e a qualidade é satisfatória.
Já no interior (passamos pelo interior na volta), pedágios em pista simples (o que eu, particularmente não concordo!), alguns desacertos no asfalto que chegam a doer no coração quando você não os percebe e sofre a pancada nas rodas. 
Qualidade ruim, porém o valor estava no mesmo nível do litoral.
No estado do Rio Grande do Sul especificamente, eu, sempre achei absurdo. 
Não que seja totalmente ruim, mas os valores são altos e se oferece muito pouco. 
Na grande maioria das vias que conheço a pista é simples, de asfalto duvidoso e sempre muito movimentadas.
No Uruguai, os valores são uma média entre SP e PR/SC, só que eu não pago IPVA por lá, então não me incomodou!
Um caso à parte, ainda a se destacar, é a questão do policiamento.
No Brasil, as estradas estão deixadas à sorte de tudo que se pode levar e trazer...
Não fui parado e não passei por uma blitz sequer em toda a viagem no Brasil.
No Uruguai, há uma quantidade considerável de vans da Policia Caminera (Polícia Rodovíária de lá!), paradas em locais específicos da estrada. 
Não sei se são melhores, corruptos, bem pagos, etc. 
Só sei que são mais facilmente visualizados que os nossos.

Bom, comentei sobre a polícia para poder voltar ao assunto da estrada.
Próximo à Florianópolis, de repente, o trânsito parou em nossa faixa de rolagem...
E parecia que não ia andar mais.
Demorou mais ou menos uns 10 minutos, totalmente parado.
Andou um pouco e parou mais uns 15 minutos.
Andou mais um pouco e deu pra ver a fofoca...
Um posto da PRF, com cones espalhados pela pista e apenas uma faixa para todo o movimento da volta do Reveillon poder acontecer. 
Obviamente, um verdadeiro caos... E o pior, sem um único policial, sequer observando a passagem dos automóveis.
E demorou...
E não andava...
E pra quem já estava à quase dois dias dentro do carro, parecia uma tortura sem fim...
Olhei pra trás e o engarrafamento havia se transformado em um verdadeiro monstro...
Grande em nossa frente, gigantesco atrás de nós...
Daí, depois de mais uns 20 minutos, sai um policial de dentro do posto que, tranquilamente, atravessa a faixa pra retirar os cones...
Que vontade de xingar até a 8a geração daquele indivíduo...
Ódio deixado pra trás, continuamos para, logo depois, sermos pegos por um grande temporal.
Tentei continuar, mas por fim, percebi que era risco demais.
Paramos em um das inúmeras lojas da Havan e, enquanto a patroa olhava as prateleiras, e a chuva ia diminuindo, tentei achar algum hotel pelo booking em Florianópolis através do celular. 
A diária mais barata para a cidade era de 450 reais... 
Pra quem não é tão fã, é bastante interessante perceber o quanto o litoral é prestigiado pela galera nessa época! 
Mais especificamente nessa data do Reveillon.
Sem condições de ficar, tocamos em frente, só que agora a noite estava chegando (mais de 20 horas!). Percebi que estava muito longe daquilo que havia planejado para aquele dia e resolvi que abandonaria a ideia de chegar em Osório (+360 km aproximadamente).
Mas resolvi arriscar e chegar em Tubarão (+140km, aprox.).
Então veio a travessia da Laguna...
KKKKKKKKKKKK
Que desespero!
Cansados, doidos por um banho, estressados, com fome, enfim, tudo o que não combinava com outra retenção...
Está sendo feita uma nova ponte e todo o trânsito está sendo deslocado para apenas uma, que é compartilhada para os dois sentidos. 
Só que demora... 
E demora pra porra... 
Principalmente quando se está aziado...
Não vou me estender!
Passamos e chegamos em Tubarão!
Hotel simples, banho e cama!
Acordei sem o despertador às 6h!
O dia era longo!!!
Tinha resolvido que iria direto para o Chuí e naquele instante, tinha certeza de que queria chegar lá ainda naquele dia! 
Minha intenção era ir direto, para quando fosse voltar, poder apreciar e aproveitar de outras coisas do caminho.
Tocamos em frente! 
Então chegamos, depois de dois dias ao "ideal do corpo" em termos de físico para viagens desse tipo! 
Fazer paradas a cada 200 ou 250 km.

Daí aconteceu uma coisa um tanto quanto chata...
Estávamos com uma garrafa térmica no carro, que abastecíamos de água gelada, para hidratação no caminho.
Paramos em um posto, eu vi uma torneira e pedi à minha filha que enchesse. 
Pedi ainda, para que verificasse se estava bem geladinha e, eu e minha esposa entramos na loja de conveniência para comprarmos as primeiras iguarias regionais do sul: suco de uva e queijo colonial.
Então, chega minha filha aos prantos, porque havia queimado os dedos... 
Não viu que a torneira era de água quente e enfiou três dedos na água que acabara de abrir para ver a temperatura.
Coitada!
Mas, fazer o quê?!?
O aviso estava lá...
Só que deve-se levar em conta que, como o consumo do Chimarrão não faz parte de nossa cultura aqui em Brasília, não imaginaríamos mesmo que sairia água fervente de uma torneira em um posto de combustíveis...
O sofrimento foi apaziguado por uma pomada de mãe e um carinho de pai.
Pode não resolver, mas acalenta a alma!

Estrada novamente, vimos então passar Porto Alegre pela janela do carro e seguimos.
Pouco depois, por volta do meio dia, seguindo para Camaquã, estrada simples, pedagiada, movimentada pra caramba, alguns idiotas forçando ultrapassagem onde as coisas não estavam muito de acordo, vejo de canto do olho um posto, com um tanto de carros parados e uma placa "Casa das Cuecas"! 
Nem pensei duas vezes. 
No stress que eu estava com o movimento dei seta e entrei, mesmo sendo pela saída, visto que quase havia passado do local. 
Não imagine que tenha me dado uma vontade enorme de comprar cuecas naquela altura da viagem. 
Eu queria mesmo era me livrar dos sujeitos que estavam fazendo parelha comigo naquele instante. 
Então, raciocinei melhor e resolvi conferir o porque do grande movimento da Casa das Cuecas... 
Foi então que eu percebi que era o Restaurante Casa das Cucas, do qual eu jamais ouvira falar! KKKKKKKKKKKKK
Entramos e fomos almoçar e fomos muito bem surpreendidos pela simplicidade, qualidade, quantidade e ótimos preços dos pratos da casa. 
Uma salada de maionese, feita apenas com batata que nos encantou e uma parmeggiana com um bife tão grande e grosso que nos satisfez, sozinha!
Sim, os três, dividimos apenas um prato e saímos satisfeitos!!!
Compramos ainda uma Cuca grande, de Côco e com as bebidas a conta deu pouco mais de 50 reais!
Confesso aqui que armei a volta para podermos almoçar lá de novo!
É importante me fazer entender aqui, o valor que se dá ao acaso!
Creio que todos que viajam, seja pra onde for, sentem-se muito realizados ao encontrar uma novidade em seu caminho, uma surpresa, principalmente se for boa!
A comida não vai impressionar qualquer um que tenha o paladar muito apurado!
O valor é emocional!!!
E fomos!
E o calor estava de matar!
Em Camaquã-RS, 38 graus por volta das 15hs.
Em Pelotas, sequer paramos!
Comemos a Cuca no carro mesmo, com suco de uva quente, rumo da Reserva do Taim.
E então começou a chover!
Muito mesmo...
Andamos mais de 200 km embaixo de chuva.
Passando pelo Taim, ela deu uma trégua.
Então paramos!
Fomos ver a paisagem pós tempestade e, enfim, o passeio começou!

Bebemos suco de uva de novo, comemos queijo, o resto da Cuca, vimos as capivaras e o frio chegou!!!
Que sensação boa!
Da realização de uma vontade!
De uma ideia!

E então seguimos!
Fomos para o Chuí!
Chegamos às 18h40, em ponto!
Mesma hora que acenderam as luzes da água e do óleo no painel da Pajero...
Que merda!
Correias...
Arrebentaram às três, de uma só vez...
Parei na esquina, perguntei pra um senhor, proprietário de um hotel se ele sabia onde eu encontraria as correias.
Me mandou descer duas ruas e falar com o dono de uma loja que eu era amigo dele.
O outro camarada perguntou qual era o carro e me mandou descer mais duas ruas e falar com o dono de outra loja que eu era amigo dele.
KKKKKKKKKK
Comecei a achar engraçado essa coisa de teia de amizades e como se enfiam pessoas nela que não se sabe sequer de onde vem ou o que querem.
É bondade de coração, claro, mas naturalmente envolve riscos.
Fui na outra loja e o terceiro camarada da história não tinha.
Olhou o relógio e apavorou...
Você está hospedado em algum lugar?
Não, por quê?
Porque as lojas estão fechando e a cidade está cheia...
Dá pra dormir no carro?
Pensei... Lascou!
Faz assim, vá até aqui na esquina de baixo, lá tem uma retífica, veja se ele tem alguma coisa pra te ajudar, diga que você é meu amigo.
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Em cinco minutos na cidade eu era amigo de praticamente todos os proprietários de lojas de autopeças e de um dono de hotel. Se eu me candidatasse, pelo menos o apoio de alguns empresários eu teria.
KKKKKKKKKKKKKK
Devaneios à parte...
O camarada da retífica, ao ouvir que eu era amigo de tanta gente, ligou imediatamente para alguém, e falou em castellano por 5 minutos.
Não entendi nada!
De repente, virou pra mim e perguntou: Qual é sua Pajero?
Respondi: Uma GLS-B 2.8, 99, modelo 2000, motor 4M40 à diesel.
Ele virou pro celular e falou: Una ponto oto!
Desligou e disse: O mecânico está chegando lá com as correias.
Sai pra voltar e pensei: Isso não vai dar certo!
Como é que eu vou fazer pra dormir no carro???
Fudeu foi tudo...
PQP...
E agora...
...

Cheguei lá e minha esposa já tinha achado um quartinho em um verdadeiro muquifo pra nós, sem nem ao menos ventilador. Disse que tinha andado pra todo lado e não tinha vaga em lugar nenhum, só nesse buraco...
Voltei pra contar pro dono do hotel o que tinha tentado resolver e o que tinha encaminhado.
Ele me alertou pra não deixar de combinar o preço antes do mecânico colocar a mão no carro.
Daí, me encosta uma Chana com um galegão dentro que desce com duas correias na mão.
O Capô estava aberto, já meteu a cara pra olhar as correias e me falou: A do Ar Condicionado também arrebentou!
Vai trocar também?
Eu, preocupado perguntei quanto era!
E ele disse: 28!
Dólares??? Perguntei assustado.
E ele: Não, reais, cada uma!
Colocada?
Sim!
Quanto dá???
84!
Faz 80?
Sim.
Reais?
Sim!
Então pode trocar!

Ele ia trocar de todo jeito!!!
Até se fosse 100 reais cada uma!
Creio que até uns 500 reais eu pagava...
Não tenho dinheiro sobrando não, mas eu ainda estava tão assustado com a história de dormir no carro, que não tinha processado ainda a informação do muquifo.
Sem falar que o carro dormiria na rua. Enfim, o desespero me faria pagar praticamente qualquer valor.
Quando o galegão terminou, dei cem reais pra ele.
Não tem trocado???
Eu disse: Não! Pode ficar com o troco!
Daí ele fez uma cara que até agora eu to tentando acreditar.
Como se eu tivesse feito algo de muito estranho e ruim...
Eu disse: O galho que você me quebrou não tem preço, estou te dando um dinheiro a mais pelo favor.
Ele recusou!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Encabuladíssimo, eu ri muito e falei pra ele que era eu quem não aceitava o troco.
Ele deu um sorrisinho sem graça, pegou na minha mão, agradeceu e foi embora.

Meu Deus!!! Acho que não dá nem pra comentar...
Meu anjo da guarda mostrou o tamanho da sua competência!
E, sim, o mundo ainda tem jeito!

Até aqui, contei a parte que se refere à estrada!
Depois conto o passeio e a volta!!!
Aguarde!!!!!!!!

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